20 de maio de 2015

Televisão e linguagem

Desde que voltei a escrever com mais frequência aqui no Blog, tenho voltado minhas postagens para os assuntos mais recorrentes no meu consultório.
Ando surpresa com a quantidade de tempo que as crianças estão passando em frente à TV. Na verdade, nem ficam somente na TV, ficam em frente às telas de um modo geral: DVD portátil, tablet, celular etc.

Entendo que a tecnologia chama atenção, principalmente dos pequenos. Mas por que os pais a oferecem tanto às crianças?
Ganham um momento de calmaria das crianças? É o momento que os pais conseguem resolver as coisas em casa? Por que elas gostam? Por que acham que isso estimula?
Os motivos são inúmeros mas as consequências desse excesso geralmente são as mesmas.

Se pararmos para pensar, o grande foco de atenção na tela é também um isolamento do mundo ao redor. E criança precisa brincar, interagir!

Vamos lá! Tente somar o tempo que seu filho passa em frente às telas... Qual o resultado? 2, 3, 4 horas?
Acredite, eu já atendi crianças que, fazendo o somatório, davam 5 horas! Inacreditável!

Quanto mais nova é a criança, mais prejudicial é esse-tempo-perdido. Qual é a influencia disso no desenvolvimento da linguagem?

As crianças acabam se ocupando de um estímulo passivo por muito tempo e deixam de lado as interações sociais que tanto contribuem para o seu aprendizado.
Elas não conversam enquanto vêem TV, no máximo repetem as falas dos personagens favoritos.
Alguns desenhos fazem quebras dialógicas, que normalmente não ocorrem em conversas naturais com outras pessoas.
Exemplo: O personagem pergunta: - Para onde nós vamos agora?
A criança responde: Para o castelo!
O personagem devolve: - Muito bem, iupi!! Nós vamos ao parque!       (Parque??)

Além disso, ficam de lado a exploração de brinquedos diversificados com a coordenação motora, as corridas com o gasto de energia, o faz de conta com a abstração tão necessária para o desenvolvimento da linguagem, o contexto das relações com as suas expressões faciais, a bagunça com a sua criatividade.  A criança perde mais do que ganha.

Minha sugestão é que não tenha telas para crianças até 2 anos. Esta é uma idade propícia para desenvolver as habilidades de comunicação e interação com as brincadeiras lúdicas. Depois de 2 anos, o tempo de apenas um filme infantil já está de bom tamanho. Ponto!

Também não aconselho que a televisão fique ligada como plano de fundo das brincadeiras. Se começar um desenho que a criança goste, mesmo que ela não esteja olhando, ela vai ouvir e fatalmente vai parar o que estiver fazendo e correr para a frente da TV. Crianças pequenas tendem a prestar atenção nos estímulos mais evidentes, e assim interrompem a atenção no que estão fazendo para dirigir sua atenção para algo mais chamativo. Neste caso, dê preferência ao rádio ligado, somente o som musical, sem as imagens disponíveis.

No início do desenvolvimento a criança precisa de muitas experiências e com a linguagem não é diferente. Colocar a linguagem verbal e não verbal em uso contribui para uma elaboração linguística cada vez mais elaborada. A intenção de se comunicar acaba por promover a qualidade da própria comunicação.

E por último, convido todos os adultos a repensarem o uso da tecnologia em casa. Tenha sim os seus momentos para as redes sociais, conversas online e para as trocas de mensagens... Concordo que no mundo atual isso é necessário. Mas, por outro lado, não exagere. Sente no chão e brinque com as crianças, converse com quem está ao seu lado, ao vivo é sempre muito melhor!

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