Em meu consultório, eu priorizo a orientação à familia, tanto quanto a realização da sessão de terapia propriamente dita.
Não há como desvincular a terapia da orientação. A orientação deve ser uma extensão do que é feito em sala com a criança, um meio de continuar o estímulo correto. Se a família se engaja no processo terapêutico e segue o que é proposto, a criança se torna muito mais estimulada e consegue generalizar o que foi aprendido para as situações cotidianas muito mais facilmente.
O objetivo de qualquer tratamento deve ser este: melhorar a vida da criança!
Por este motivo não consigo compreender como existem profissionais que não privilegiam a orientação aos pais e querem apenas realizar a sessão dentro do consultório e ponto final. Também não consigo entender como existem pais que delegam a função de estimular, apenas aos profissionais e não se abrem para ouvir o que deve ser feito em casa.
Entendo que a relação terapeuta-paciente e a dinâmica de muitas famílias interferem nesse engajamento e nesta troca contínua, mas a palavra de ordem é EQUIPE. Não só os profissionais mas a família também faz parte da equipe.
Convido a todos os familiares a procurarem realizar as orientações sugeridas. convido a trocarem informações com os profissionais dando-lhes mais informações do cotidiano da criança. A criança passa mais tempo com vocês. Os pais não precisam saber tudo de um determinado quadro clínico, mas devem saber tudo sobre seu próprio filho.
Convido todos os profissionais a perguntarem mais e não se conformarem apenas com o que lhe é contado. Os pais não são obrigados a saber o que é ou não relevante para o profissional saber, mas se você perguntar eles poderão receber mais do seu conhecimento.
Abram-se!
Todas as situações podem ser passíveis de uma orientação, é só querer dar e receber.
17 de julho de 2015
2 de junho de 2015
Informação e orientação sobre Processamento Auditivo
Durante 24
horas por dia somos expostos a várias informações auditivas e compete ao nosso
sistema auditivo identificar as mensagens que nos interessam, diminuindo ou
anulando as interferências que acabam dificultando o entendimento. Ao exercer
esta função, o nosso sistema auditivo coloca em uso, o que chamamos de
habilidades auditivas.
Existem várias
habilidades auditivas e dentre elas, podemos citar: a localização do som, a
compreensão da fala no ruído, a compreensão de uma mensagem (mesmo quando ela
está distorcida ou fragmentada), a capacidade para eleger estímulos
apresentados a uma orelha ignorando informações apresentadas à orelha oposta, o
reconhecimento de estímulos diferentes apresentados simultaneamente a ambas as
orelhas e a percepção de pequenas e rápidas mudanças nos estímulos sonoros como
a freqüência, a intensidade e a duração.
Dessa forma,
podemos dizer que além de identificarmos a presença dos sons, também estamos
processando cada um deles. Por isso, a avaliação do processamento auditivo é
diferente de uma avaliação de audição tradicional (avaliação audiológica).
Enquanto uma mede os níveis da audição, a outra avalia a forma como os sons são
interpretados quando ouvimos.
As informações
auditivas atingem o sistema nervoso numa sucessão muito rápida. O processamento
de cada uma delas deve ser feito em poucos milissegundos, para podermos
acompanhar o raciocínio. Assim, se perdermos alguma pista auditiva, por menor
que seja, podemos falhar na compreensão da mensagem, como é o caso da falha na
interpretação de piadas, duplos sentidos e ambigüidades.
Nos últimos 20
anos, houve um enorme avanço na área das neurociências e isso repercutiu num
melhor entendimento sobre o processamento auditivo. Junto a esses conhecimentos
que decodificam a informação auditiva, temos outras áreas que estão associadas
à leitura, escrita e linguagem, como as áreas fonológica, lexical e semântica, bem como as áreas que elaboram as respostas.
Assim, é preciso pensar no processamento das informações auditivas, sempre que
houver uma queixa na aprendizagem.
O
encaminhamento para a realização do Exame do Processamento Auditivo deve ser
feito para complementar a avaliação clínica fonoaudiológica e nortear a
terapêutica.
É de suma
importância o acompanhamento da família em casa e em outros ambientes,
proporcionando variedade de estímulos e vivências. No campo que concerne à
audição podemos orientar algumas atividades lúdicas para as crianças:
- · Proporcione vivencias auditivas ricas com exposição a sons variados (vídeos, instrumentos de bandinha, músicas de ritmos diferentes, sons ambientais e corporais)
- · Peça para a criança prestar atenção nos sons de olhos abertos, vendo as ações que o provocam e depois, para estimular, trabalhe com os mesmos sons, porém de olhos fechados e pedindo para que a criança os identifique.
- · Associe estes sons com outros parecidos, buscando uma maior expressividade oral e aumento de vocabulário.
- · Nomeie os sons conhecidos e outros não identificados prontamente fazendo uma associação com outros sons parecidos.
Bibliografia:
RAMOS, B D. But,
after all, why is it important to acess the auditory processing? Braz
J Otorhinolarygol. 79(5): 529, 2013.
SOUZA, M A et al. Ordenação temporal simples e localização Sonora:
associação com fatores ambientais e desenvolvimento de linguagem. Audiol. Commun
Res. 20(1):24-31, 2015
20 de maio de 2015
Televisão e linguagem
Desde que voltei a escrever com mais frequência aqui no Blog, tenho voltado minhas postagens para os assuntos mais recorrentes no meu consultório.
Ando surpresa com a quantidade de tempo que as crianças estão passando em frente à TV. Na verdade, nem ficam somente na TV, ficam em frente às telas de um modo geral: DVD portátil, tablet, celular etc.
Entendo que a tecnologia chama atenção, principalmente dos pequenos. Mas por que os pais a oferecem tanto às crianças?
Ganham um momento de calmaria das crianças? É o momento que os pais conseguem resolver as coisas em casa? Por que elas gostam? Por que acham que isso estimula?
Os motivos são inúmeros mas as consequências desse excesso geralmente são as mesmas.
Se pararmos para pensar, o grande foco de atenção na tela é também um isolamento do mundo ao redor. E criança precisa brincar, interagir!
Vamos lá! Tente somar o tempo que seu filho passa em frente às telas... Qual o resultado? 2, 3, 4 horas?
Acredite, eu já atendi crianças que, fazendo o somatório, davam 5 horas! Inacreditável!
Quanto mais nova é a criança, mais prejudicial é esse-tempo-perdido. Qual é a influencia disso no desenvolvimento da linguagem?
As crianças acabam se ocupando de um estímulo passivo por muito tempo e deixam de lado as interações sociais que tanto contribuem para o seu aprendizado.
Elas não conversam enquanto vêem TV, no máximo repetem as falas dos personagens favoritos.
Alguns desenhos fazem quebras dialógicas, que normalmente não ocorrem em conversas naturais com outras pessoas.
Exemplo: O personagem pergunta: - Para onde nós vamos agora?
A criança responde: Para o castelo!
O personagem devolve: - Muito bem, iupi!! Nós vamos ao parque! (Parque??)
Além disso, ficam de lado a exploração de brinquedos diversificados com a coordenação motora, as corridas com o gasto de energia, o faz de conta com a abstração tão necessária para o desenvolvimento da linguagem, o contexto das relações com as suas expressões faciais, a bagunça com a sua criatividade. A criança perde mais do que ganha.
Minha sugestão é que não tenha telas para crianças até 2 anos. Esta é uma idade propícia para desenvolver as habilidades de comunicação e interação com as brincadeiras lúdicas. Depois de 2 anos, o tempo de apenas um filme infantil já está de bom tamanho. Ponto!
Também não aconselho que a televisão fique ligada como plano de fundo das brincadeiras. Se começar um desenho que a criança goste, mesmo que ela não esteja olhando, ela vai ouvir e fatalmente vai parar o que estiver fazendo e correr para a frente da TV. Crianças pequenas tendem a prestar atenção nos estímulos mais evidentes, e assim interrompem a atenção no que estão fazendo para dirigir sua atenção para algo mais chamativo. Neste caso, dê preferência ao rádio ligado, somente o som musical, sem as imagens disponíveis.
No início do desenvolvimento a criança precisa de muitas experiências e com a linguagem não é diferente. Colocar a linguagem verbal e não verbal em uso contribui para uma elaboração linguística cada vez mais elaborada. A intenção de se comunicar acaba por promover a qualidade da própria comunicação.
E por último, convido todos os adultos a repensarem o uso da tecnologia em casa. Tenha sim os seus momentos para as redes sociais, conversas online e para as trocas de mensagens... Concordo que no mundo atual isso é necessário. Mas, por outro lado, não exagere. Sente no chão e brinque com as crianças, converse com quem está ao seu lado, ao vivo é sempre muito melhor!
Ando surpresa com a quantidade de tempo que as crianças estão passando em frente à TV. Na verdade, nem ficam somente na TV, ficam em frente às telas de um modo geral: DVD portátil, tablet, celular etc.
Entendo que a tecnologia chama atenção, principalmente dos pequenos. Mas por que os pais a oferecem tanto às crianças?
Ganham um momento de calmaria das crianças? É o momento que os pais conseguem resolver as coisas em casa? Por que elas gostam? Por que acham que isso estimula?
Os motivos são inúmeros mas as consequências desse excesso geralmente são as mesmas.
Se pararmos para pensar, o grande foco de atenção na tela é também um isolamento do mundo ao redor. E criança precisa brincar, interagir!
Vamos lá! Tente somar o tempo que seu filho passa em frente às telas... Qual o resultado? 2, 3, 4 horas?
Acredite, eu já atendi crianças que, fazendo o somatório, davam 5 horas! Inacreditável!
Quanto mais nova é a criança, mais prejudicial é esse-tempo-perdido. Qual é a influencia disso no desenvolvimento da linguagem?
As crianças acabam se ocupando de um estímulo passivo por muito tempo e deixam de lado as interações sociais que tanto contribuem para o seu aprendizado.
Elas não conversam enquanto vêem TV, no máximo repetem as falas dos personagens favoritos.
Alguns desenhos fazem quebras dialógicas, que normalmente não ocorrem em conversas naturais com outras pessoas.
Exemplo: O personagem pergunta: - Para onde nós vamos agora?
A criança responde: Para o castelo!
O personagem devolve: - Muito bem, iupi!! Nós vamos ao parque! (Parque??)
Além disso, ficam de lado a exploração de brinquedos diversificados com a coordenação motora, as corridas com o gasto de energia, o faz de conta com a abstração tão necessária para o desenvolvimento da linguagem, o contexto das relações com as suas expressões faciais, a bagunça com a sua criatividade. A criança perde mais do que ganha.
Minha sugestão é que não tenha telas para crianças até 2 anos. Esta é uma idade propícia para desenvolver as habilidades de comunicação e interação com as brincadeiras lúdicas. Depois de 2 anos, o tempo de apenas um filme infantil já está de bom tamanho. Ponto!
Também não aconselho que a televisão fique ligada como plano de fundo das brincadeiras. Se começar um desenho que a criança goste, mesmo que ela não esteja olhando, ela vai ouvir e fatalmente vai parar o que estiver fazendo e correr para a frente da TV. Crianças pequenas tendem a prestar atenção nos estímulos mais evidentes, e assim interrompem a atenção no que estão fazendo para dirigir sua atenção para algo mais chamativo. Neste caso, dê preferência ao rádio ligado, somente o som musical, sem as imagens disponíveis.
No início do desenvolvimento a criança precisa de muitas experiências e com a linguagem não é diferente. Colocar a linguagem verbal e não verbal em uso contribui para uma elaboração linguística cada vez mais elaborada. A intenção de se comunicar acaba por promover a qualidade da própria comunicação.
E por último, convido todos os adultos a repensarem o uso da tecnologia em casa. Tenha sim os seus momentos para as redes sociais, conversas online e para as trocas de mensagens... Concordo que no mundo atual isso é necessário. Mas, por outro lado, não exagere. Sente no chão e brinque com as crianças, converse com quem está ao seu lado, ao vivo é sempre muito melhor!
4 de maio de 2015
Atraso na fala ou atraso na comunicação??
Todos se preocupam com a fala da criança! Se a fala atrasa, os pais
ficam muito tensos, e neste momento, as brincadeiras ficam como plano de fundo.
Com a preocupação pela falta de palavras, os adultos ficam pedindo para a
criança repetir uma palavra aqui e outra acolá quase sempre sem sucesso. A
ansiedade quer porque quer as palavras e assim,
nem repara na comunicação.
Antes de falar é preciso conhecer muito sobre a comunicação e colocar
tal aprendizado em prática. O uso de gestos, por exemplo, fazem parte do
desenvolvimento. É claro, que os gestos por si só não devem perdurar por muito
tempo, depois de aprendidos eles passam a ser combinados com outros padrões
comunicativos como: o olhar e emissões verbais.
Fique atento a alguns comportamentos pré-verbais na criança, que
mostram que a comunicação está se desenvolvendo:
- · Sempre atende o chamado do nome.
- · Fica perto de você, mantendo contato visual enquanto vc fala.
- · Compartilha atenção, se mostrando interessado em um mesmo brinquedo.
- · Olha para o que vc mostra.
- · Mostra itens a vc ou outra pessoa, apontando ou oferecendo.
- · Atende seus comandos quando vc os associa a gestos.
- · Usa o apontar para pedir e olha para vc em seguida.
È importante ressaltar alguns gestos que a criança aprende muito cedo,
entre 1 ano a 1 ano e meio:
- · Apontar
- · Dar tchau.
- · Mandar beijo
- · Dar beijo.
- · Sinalizar não com a cabeça.
- · Sinalizar sim com a cabeça.
- · Pedir estendendo a mão.
Quando os comportamentos comunicativos pré-verbais estão atrasados, é
necessário procurar uma ajuda profissional com um fonoaudiólogo especialista em
linguagem.
O Fonoaudiólogo dará as orientações pertinentes a cada caso,
encontrando caminhos para a comunicação se desenvolver de forma mais eficiente
e/ou iniciará a intervenção terapêutica.
Muitas vezes, os atrasos mais significativos de linguagem começam a se
revelar nos comportamentos pré-verbais. E assim, a organização e estruturação lingüística
torna-se mais complexa e necessitando de cuidados.
Outro aspecto importante a ser avaliado é o simbolismo ou faz-de-conta
como é comumente chamado. Mas esse assunto fica para um próximo post!
5 de abril de 2015
Estimulação da linguagem com brinquedos
Não é raro alguém me
perguntar quais são os brinquedos mais apropriados para a idade da criança e
quais são os brinquedos que mais estimulam linguagem.
Descobrir quais são
brinquedos mais apropriados para idade é moleza. Há inúmeras listas aqui na
internet, e ao pesquisar sobre as fases do desenvolvimento você facilmente pode
relacionar os brinquedos a elas ao dar uma voltinha na loja de brinquedos.
Agora, responder quais os
brinquedos que mais estimulam a linguagem preciso explicar mais um pouquinho.
Então vamos às dicas:
Comece pensando que os
brinquedos são ferramentas valiosas, mas apenas ferramentas. O uso que se faz
dele é o que realmente é chamado de estímulo. Assim, uma brincadeira que
estimula é aquela realizada em conjunto, direcionada e não sozinha.
O adulto precisa ter em
mente que ele é fundamental no aprendizado. A interação motiva e faz com que a
criança aprenda por observação e por estar sendo constantemente desafiada.
Brincar sozinho é bom por um lado, mas por outro é apenas se entreter,
aprimorar o que já se sabe e fazer pequenas descobertas. Brincar junto é
descobrir o mundo!
As vezes o brinquedo é óbvio
e não chama tanta atenção da criança. Já o que você propõe nunca cai na
mesmice, é muito mais divertido, fantasioso e surpreendente! A criança sabe que
menos é mais e que ela terá grandes oportunidades ao estar com vc. Não é raro observar que a criança pode
ganhar um brinquedo “show” e no final se divertir mais com a caixa.
Quando a criança brinca a
gente já sabe que ela busca fazer relações entre os objetos experimentando
novidades. E por isso eu pergunto: Por que o tal cesto de brinquedos que
mistura tudo no mesmo lugar???
A criança vai espalhar
aquilo tudo... vai mexer em um e outro, vai procurar não-sei-o-quê no meio
daquela confusão e no final das contas o controle remoto da TV será mais
divertido. É ou não é?
Bom o que fazer então?
A linguagem ela se organiza
semanticamente, ou seja, ela faz relações com tudo. Se eu disser “praia”, vc vai lembrar de muitas coisas
relacionadas a isso. Quando alguém diz algo, vc se lembra de outra coisa por
fazer uma relação. Ou seja, a gente sempre busca fazer relações, dar sentido ao
que está ao nosso redor. As crianças estão aprendendo estas relações, por isso
não deixe que os estímulos ao redor estejam bagunçados.
O ideal é separar os
brinquedos por categorias. Use as prateleiras, gavetas, caixas, cestos e toda a
mobília para ajudar nesta separação.
Por exemplo, numa caixa vc
pode colocar toda a categoria que envolve carros: posto de gasolina, pista,
cones, automóveis, motos e etc. E, se é uma categoria, por que não juntar outros meios de transportes
como avião e bicicleta, carroça?
Assim quando a criança pegar
um brinquedos naquela caixa, há maiores chances de estabelecer relação entre
eles. Quando se tem um cesto de brinquedos, nem sempre ela acha aquilo que pode
se relacionar. Desta forma, a brincadeira fica mais exploratória, utilizando
objetos individualmente sem estabelecer as relações semânticas que tanto
auxiliam na linguagem.
Caixa de brinquedos de
cozinha, de fazenda, de brinquedos sonoros etc. Dá trabalho no início para o
adulto mas aos poucos a criança vai se organizar!
O adulto deve encorajar a
criança a brincar com aquela categoria e depois guardar. Ela pode até pegar
mais de uma caixa de uma vez, desde que ela mesma separe tudo novamente.
Guardar nos locais apropriados ajuda na organização semântica.
Para auxiliar neste
processo, você pode colocar fotos, ou figuras representativas de cada categoria
na frente das caixas ou gavetas. Isso pode auxiliar as crianças a se guiarem
tanto para pedir o que querem quanto para guardar.
Com o passar do tempo você
vai ver o quão diversificado vai ficar a brincadeira, o quão organizada e cheia
de estímulos ela será.
Até você vai se animar a
sentar no chão e brincar junto, pois será muito mais interessante!
Faça a arrumação e depois me
conte como foi!
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