Em Maio, o DSM V foi lançado. Oba! Oba?????
DSM-V, o Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais
O DSM tem como maior benefício padronizar diagnósticos clínicos (mesmo que de modo imperfeito), diminuindo a variabilidade que ocorreria caso cada pesquisador tivesse sua “opinião pessoal” sobre o assunto. Não seria possível, por exemplo, comparar os resultados de um tratamento realizado por uma equipe X com aqueles realizados por outra equipe Y, se cada uma delas chamar um quadro clínico de uma forma. (Mattos, 2013)
Sendo assim, o DSM é um recurso imprescindível para a realização de diagnósticos e sua nova edição foi super esperada por muitos (inclusive por mim).
Confesso que nem me preocupei de ir correndo atrás do manual na hora para ler as modificações a respeito do autismo, pois com tanto esclarecimento acerca do assunto hoje em dia, eu tinha certeza de que os critérios diagnósticos só tendiam a melhorar.
Chegada a hora de ler as modificações, e eu me aconcheguei com papel, caneta marca-texto em punho e... quase tive uma síncope!!!!
Parece mentira, mas não é...
O diagnóstico agora é Transtorno do Espectro do Autismo e só! Não tem mais Sindrome de Asperger, nem TID-SOE, nem Alto funcionamento e nem autistas clássicos. Agora todo mundo pertence a um só grupo denominado Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). A diferença, segundo o DSM V deverá ser feita por graus e não mais por subcategorias.
Eu ainda estou pasma e nem quero pensar no que está por vir. Se já era difícil chegar a um diagnóstico com todos os critérios que tínhamos para cada categoria dentro do Espectro, o que será que vai acontecer se todos os tipos e graus levam o mesmo nome?
Diz o manual que a diferença estará nos graus. Mas sinceramente queria saber quais são as ferramentas que iremos usar para saber o grau de autismo. O CARS? O CARS é muito bom mas é uma ferramenta de grande valia para ter dados mais descritivos do quadro. O grau de autismo para mim não está no que a criança faz ou deixa de fazer, sabe ou não sabe, o grau de autismo está na funcionalidade da criança. Alguém tem uma sugestão para medir a funcionalidade?
O diagnóstico de autismo sempre foi e sempre será descritivo, mas as categorias auxiliam nos direitos, no tratamento, nas pesquisas, no diagnóstico diferencial, no prognóstico.
A presença ou a ausência de déficit intelectual, assim como a presença ou ausência de atraso de fala e linguagem, são fundamentais no diagnóstico diferencial entre a Sindrome de Asperger, autistas de alto funcionamento e autistas clássicos.
Olha só como vai funcionar: A criança vai ao médico que diz que ele tem TEA, e quando ela chegar no meu consultório com este papel, ele não vai fazer a menor diferença para mim pois não terei idéia de onde ela está no espectro, de como ela funciona, qual o ponto de partida.
Pensem bem: Se todos são TEA, sem categorização, pesquisas similares podem ter resultados diferentes só porque tinham indivíduos com muitas variações dentro do espectro. Ex.: O resultado de uma pesquisa com 10 Aspergers é muito diferente de uma outra pesquisa com 5 Aspergers e 5 autistas clássicos. Claro!
Para fazer a pesquisa nós teremos que separar os grupos pelos sintomas, características e antes nós tínhamos uma referência para isto e agora não temos mais.
Ou os pesquisadores vão ter um trabalho danado para explicar como foi a seleção do grupo pesquisado ou eu vou ter um trabalho danado para ler e entender o resultado da pesquisa. Fora que eu ainda vou ter que aplicar a teoria na prática.
Bom, até agora listei que eu considero perda para os profissionais da saúde... mas ainda posso citar as possíveis perdas para a sociedade.
A inclusão do asperger e autistas "clássicos" na escola é a mesma? Não! Conclusão: Perdemos a individualidade.
A sociedade tem muitos mitos ainda sobre o autismo? Sim! Agora teremos mais mitos ainda porque o nome é igual para todo mundo e a conscientização não poderá ser feita em poucas palavras.
Junto com a falta e dificuldade de informação temos o preconceito aumentando.
Bom,me lembrei de um pensamento de Boaventura de Souza Santos, que pode ser muito bem aplicada aqui.
"Lutar pela igualdade quando a diferença nos discrimina. E lutar pela diferença quando a igualdade nos descaracteriza"
Este pensamento ilustra nem o que penso a respeito do DSM V. O DSM V descaracterizou pessoas que precisavam de um pouco mais de ciência e sensatez.
Ainda estou digerindo....
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